Secretaria Geral

 

Os Gabinetes Governamentais do Ministério da Economia ocupam um edifício situado na Rua da Horta Seca, perto do Largo do Camões, em Lisboa.

Este edifício, conhecido como Palácio do Manteigueiro, foi objecto de uma conferência proferida por Mário Costa no grupo Amigos de Lisboa em 7 de Novembro de 1957.

Esta conferência, da qual a seguir se transcrevem alguns excertos, foi publicada no boletim Olisipo, n.º 82 de Abril de 1958 e conta a história deste palácio e dos seus ocupantes, desde a sua construção em 1787.

Palácio Manteigueiro


 

 
 

1. Origem

 

Palácio Manteigueiro Escadaria

 

"... A origem deste palácio data de 1787 e a sua construção foi entregue ao arquitecto Manuel Caetano de Sousa por mandado de Domingos Mendes Dias, natural da povoação de Medeiros, freguesia e comarca de Montalegre, província de Trás-os-Montes, que destinou a luxuosa moradia a sua residência. Muito jovem ainda fugiu aos pais e começou a vida em Lisboa como aguadeiro, depois foi marçano de mercearia e a seguir ao terramoto já se classificava negociante da praça de Lisboa."
Uma outra versão "... dá este trabalhador como emigrado no Brasil, onde se entregou ao comércio de mercearias tornando-se um novo-rico, numa época anterior à consagração deste termo.


O afortunado transmontano, que se não fora a riqueza acumulada não passaria dum ignorado e humilde cidadão, chegou a fidalgo da Casa Real e atribui-se a origem da sua sólida posição ao comércio de manteigas por grosso, que montou em Lisboa, daí lhe advindo o epíteto de Manteigueiro."

"... Domingos Mendes Dias era considerado um dos maiores capitalistas do seu tempo e deixou uma fortuna que, na data do seu falecimento, foi avaliada em seis e meio milhões de cruzados, correspondentes a dois mil e seiscentos contos de reis."

"... Os interiores do palácio eram de um luxo asiático . As quatro salas (branca, vermelha, verde e amarela), com os tectos pintados por Pedro Alexandrina (1730-1810) e ricas portas de madeira do Brasil, estavam forradas de damasco, recheadas de colgaduras e de opulenta mobília. Os espelhos eram de boas chapas de cristal e tanto as molduras como os tremós estavam dourados com peças d'ouro derretidas. O salão de baile, como a sala de jantar, corriam ao longo da fachada virada à Rua da Horta Seca."

"... querendo mostrar-se de origem fidalga, obteve de António de Sousa Pereira Coutinho, morgado de Vilar de Perdizes e vizinho na sua terra de nascimento, a sua aquiescência no tratamento de primo, prometendo em troca, legar-lhe o palácio e toda a sua fortuna.

Não esqueceu o brasileiro a promessa feita, que religiosamente cumpriu, e assim, por sua morte, o palácio da Rua da Horta Seca entrou na posse do morgado... ."

 

 
Palácio Manteigueiro Sala

Desde essa data muitos foram os moradores deste palácio, desde aristocratas, ricos negociantes, membros de vários governos, diplomatas e representantes de governos estrangeiros.

Foi ainda o local onde a Assembleia Lisbonense, também conhecida por Assembleia da Horta Seca, "... o melhor centro da plutocracia e da alta política..." esteve instalada; tendo sido responsável por algumas alterações ao aspecto do palácio: "... com o pretexto de dar aos salões um aspecto moderno, cometeu-se a barbaridade de arrancar ou substituir as ricas decorações, como os espelhos, os damascos das paredes, os caixilhos dourados das sobreportas, e os estuques dos tectos, vendendo-se aos ferros-velhos as portas de madeira do Brasil."


"... A mudança do regime político em Portugal também influiu na história deste palácio, que veio a servir de moradia particular do primeiro presidente da República, a cujo magistrado, pela nova Constituição, não foi, a princípio, concedido direito a residir em edifícios do Estado, nem sequer a servir-se de automóvel oficial. O preenchimento desse alto cargo coube, por eleição, à Assembleia Nacional Constituinte , que reuniu para o efeito em 24 de Agosto de 1911 escolhendo o figura prestigiosa do Dr. Manuel de Arriaga, de origem fidalga, descendente de reis e cavaleiros cruzados. Pobre como era, residia numa casa modesta, ... tendo por isso que instalar-se em nova moradia, que foi o palácio do Manteigueiro. E assim, esse edifício de aspecto e interiores condignos, já tão rico de história, que acabara de servir de residência a um diplomata brasileiro que entre nós representou o seu país de 1908 a 1911, passou a ser, nos primeiros tempos da República, o fulcro da política nacional, incerta e efervescente, como é próprio de regimes incipientes.

O Dr. Manuel de Arriaga, jurisconsulto distinto, tribuno de valor, era um poeta, um místico, um sonhador. As horas que a política lhe deixava vagas, aplicava-as no carinho dos seus netos, no cultivo das flores, que ele muito apreciava no jardim do palácio, que tinha uma linda galeria envidraçada, que servia de estufa.

... A Ilustração Portuguesa dedicou, nessa altura, uma página especial à nova residência oficial do primeiro Magistrado da Nação, reproduzindo fotografias das salas de visitas e de baile e da fachada do edifício, que então não ia além do 1º andar e águas furtadas.

O presidente Arriaga pouco tempo permaneceu nesta casa, porque lhe foi consentido, afinal, ocupar um anexo do palácio de Belém, com entrada pela Calçada da Ajuda, para onde se transferiu em Junho de 1912."

Depois desta data o palácio teve vários proprietários que o foram herdando até que, em 1920 foi adquirido pela Vacuum Oil Company (que a partir de 1955 se chamou Mobil Oil), sociedade com sede em Nova Iorque, palácio onde aliás já estavam instalados desde 1913. Em 1925 a Vacuum Oil executou obras de ampliação no palácio em resposta à expansão dos seus serviços.

"... Tais obras tiveram como primeira fase a demolição completa das antigas águas furtadas e com elas se foi o testemunho de um episódio histórico da época em que liberais e absolutistas se empenhavam em grande luta, facto esse que se deu após a vitória dos primeiros. Aí esteve escondido e coberto com velas de navios, aprestos marítimos pertencentes a João Fletcher, o miguelista João Paulo Cordeiro, e de lá saiu protegido por aquele súbdito de S. M. Britânica com o disfarce de barbas postiças e a farda de um oficial inglês.

Nas mesmas águas furtadas montou o inglês um sistema engenhoso que lhe permitia interceptar os despachos telegráficos destinados ao governo do senhor D. Miguel, ... artimanha que muito útil foi à causa do senhor D. Pedro IV.

Essas antigas águas furtadas tinham quatro janelas para a Rua da Horta Seca, três do lado da Rua da Emenda e a fachada posterior apresentava características diferentes, de um bom 2º andar, de pé-direito, com nove janelas abertas. São da primitiva as varandas a toda a volta da caixa da escadaria nobre, que está coberta pelo bonito lanternim.

Na nova construção houve o propósito de respeitar a linha arquitectónica do edifício, tanto no interior como exteriormente. Nas paredes empregou-se tijolo, com argamassa de cimento e areia, às janelas de sacada do 2º andar, deram-se grades e guarnições iguais ás do andar nobre e, ao último piso, também de pé-direito, correspondem janelas de peito, com ornatos simples, e estes feitos de betão armado, pintados com tinta especial, a imitar calcário, com se fez com as novas guarnições do 2º andar. O beirado antigo foi substituído por platibanda.

Estes trabalhos foram dirigidos pelo engenheiro-chefe da Vacuum, o visconde de Assentiz, que tinha como auxiliar e responsável, pela execução das obras , o engenheiro Teófilo de Sousa Leal de Faria.

Do lado poente, um anexo de alvenaria, a que foram dadas as condições necessárias para acomodar alguns serviços, substituiu em 1923 a antiga galeria estufa, onde o Presidente Arriaga se esquecia a contemplar as suas preciosas avencas. E já a Companhia pretendeu, em 1938, renovar essa construção com dois andares condizentes com a parte central, o que não foi autorizado pelos serviços municipais, com o fundamento de que essa realização alterava a arquitectura geral.

Além da escadaria nobre, toda de pedra, que vai só ao 1º andar, uma outra de macacaúba, partindo da sobreloja, conduz até ao mirante. Tudo porém se pode fazer com maior comodidade, utilizando o ascensor eléctrico, montado em 1953.

A antiga sala de jantar, onde reúne periodicamente o Conselho de Administração da Vacuum, é o gabinete de trabalho do seu presidente. E a que foi sala de baile, está dividida em compartimentos, mas os tabiques não atingem o tecto, não bulindo assim, com os ornatos do tempo da Assembleia Lisbonense.

O jardim, para o qual se desce por duplas escadas de pedra, ... mantém-se bem cuidado e com aspecto acolhedor. Não é de todo indiferente essa mancha verdejante, aos homens que passam grande parte da sua vida numa casa de trabalho, como é a deste palácio setecentista, que ainda não dá mostras da sua longevidade. Na antiga cozinha, de abóbada forrada de azulejos policromos, são as instalações sanitárias. A velha cocheira, com entrada pela Rua da Emenda, que podia ufanar-se das belas carruagens de Jerónimo Colaço que aí se acolhiam, serve actualmente de casa de arrecadação e já foi loja de venda ao público de candeeiros, fogareiros de pressão, lanternas, bocais e torcidas, no tempo em que a electricidade não tinha atingido tão grande expansão...

Na frontaria principal, ladeando o portão, continuam a ver-se em saliência, dois candeeiros de bronze, iguais a outros mais, cuja existência ainda se respeita em alguns dos palácios da velha aristocracia."


 

 
Palácio Manteigueiro Jardim


 

O Ministério da Indústria e Tecnologia, em 1975, é o primeiro organismo da Administração Pública a instalar-se no Palácio do Manteigueiro.

Com a constituição do IV Governo Provisório, o então Ministro da Indústria e Tecnologia, Engº João Cravinho, ocupa o 2º andar do palácio partilhando as instalações com a Império, a Arcádia Editora e a Sogestil, proprietária do edifício nessa data.

Progressivamente, todo o edifício foi sendo ocupado pelos serviços de diversos Ministérios, que desde então têm funcionado no edifício da Rua da Horta Seca.

Em Setembro de 1990, o IAPMEI (Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento) adquiriu o Palácio do Manteigueiro, nesta data ocupado pelo Ministério da Indústria e Energia.

Actualmente, este belo Palácio do sec. XVIII é ocupado pelo Ministério da Economia.
 

 
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